sábado, 22 de outubro de 2016



De viagem marcada.

Quando viajei a Espanha para passar minhas férias, há um ano, nunca imaginei que aquela seria a mais impressionante viagem da minha vida. Conheci uma Sevilla diferente da que tinham me falado. Tudo era encantador.
Mas o cheiro das laranjeiras que toma conta da cidade alegre da Andaluzia, não foi o único aroma que me marcou. Foi lá que eu conheci a mulher que me fez perder o sono durante um ano inteiro. Meses depois, meus amigos ainda me perguntavam o porquê de eu não ter voltado para reencontra-la, a minha misteriosa espanhola, e a resposta era simples: ela não queria ser encontrada.
Mesmo que eles não saibam, não faltaram ocasiões que eu tenha tentado. Voltei à Sevilla, procurei por todos os lugares onde estivemos juntos, mas nada de encontrar a bela mulher de cabelos negros e olhos castanhos tão sedutores. E aquele corpo? Até um eunuco ficaria excitado em vê-la andar na sua frente. Percorri todas as ruas estreitas do bairro de Santa Cruz até perder o fôlego, e nenhum sinal dela. Minha obstinação foi tanta que fui até a catedral da cidade e pedi a todos os santos que me dessem uma ajuda para encontrar aquela danada, e juro que vi as imagens sacras virarem o rosto, fingindo que o meu pedido não era com eles. Está tenso o negócio mesmo...
Bom, mas fiquei falando tanto de minha espanhola que esqueci de me apresentar. Eu me chamo Thiago Rivas e sou dono de uma empresa alimentícia em ascensão no Brasil. Meu pai era acionista majoritário da empresa de alimentos Calixto’s e hoje sou eu quem ocupa essa posição. Somos a empresa que mais cresce nesse ramo. Temos uma linha diversa de enlatados, congelados e laticínios. Trabalhar duro e com responsabilidade foi o legado deixado por meu pai. Não podemos oferecer qualquer porcaria ou produzir de qualquer jeito. Por isso, temos o selo de excelência em qualidade dos alimentos, e posso me gabar, parte desse sucesso deve-se a minha criatividade, competência e responsabilidade.
Desta vez, voltarei a Sevilla a trabalho, mas também não deixarei passar a última oportunidade de reencontrar essa misteriosa mulher. Será a derradeira tentativa de vê-la, mesmo que seja ficar apenas na troca de olhares. Intimamente quero toca-la, beija-la e tê-la em meus braços, nem se for por uma noite apenas.
Dentro do meu escritório, olho na tela do meu notebook as fotos que tirei na cidade. Sevilla inspira alegria e carisma, e para mim um pouco de frustração. Abro a única imagem que tenho da espanhola e seu rosto está parcialmente coberto pelos cabelos negros. Mesmo assim, lembro-me com exatidão do formato de seu nariz arrebitado, da boca carnuda e vermelha como rubi... Perco a noção do tempo admirando sua foto, mas sou puxado para realidade quando o telefone toca.
— Pronto — digo, ainda meio perdido.
— Thiago, é a mamãe. Por que não veio almoçar comigo? Você disse que tinha separado um espaço na sua agenda para falarmos sobre o casamento do seu irmão, que por um acaso também está aqui comigo...
A voz fina da minha mãe me tira por completo do meu estado nostálgico.
— Porra, mãe. Eu esqueci completamente. Desculpe! — passo a mão na testa e fecho os olhos, pronto para ouvir uma reclamação.
Olho no relógio e ainda são uma e meia da tarde. Talvez consiga chegar a tempo para o almoço e rever meu irmão.
— Com exceção do palavrão, está desculpado. Agora, quero que saia deste maldito escritório e venha ao restaurante que fica a duas quadras da empresa. Quero ver meus dois filhos juntos. Isso é um fato raro.
— Ok, dona Margarida. Já estou indo — levanto com o telefone na mão. — Até já.
Desligo e saio da minha sala. Passo pela Cléo, a secretária, e digo que talvez não volte mais hoje e que ela envie o check-in do voo para Sevilla no meu e-mail.
Passar a tarde com minha mãe e Theo tem sido algo raro depois da morte do meu pai. Meu irmão saiu de casa e foi morar sozinho, enquanto eu fiquei morando com a minha mãe, apesar de quase não a ver por conta do trabalho. Sou mais velho que o Theo dois anos, mas ele se casará primeiro. Tenho mais grana, mas é ele quem viaja e curte mais a vida. Eu sei que essa não é ordem natural das coisas, já que sou o mais velho, mas quem se importa com o tradicionalismo? Eu não ligo. Foi ele quem me fez ir a Sevilla ano passado “para descansar”. Sempre fomos uma família unida, apesar da distância que o trabalho me impõe.
Dirijo até o restaurante que minha mãe indicou e estaciono. Da entrada do restaurante, os vejo ocupando uma mesa perto das janelas, com vista para o jardim. Ando até onde estão e o Theo se levanta, vindo me abraçar. Sinto muita falta desse abraço de urso do meu irmão. Nos cumprimentamos e vejo seus olhos brilharem ao me rever. Temos a mesma altura – exatos 1,83m – mas ele tem cabelos compridos e loiros, iguais os da minha mãe. Os meus são curtos e castanhos, com um topete. Usamos a barba por fazer e nossos olhos são verdes iguais ao do nosso pai. Beijo o alto da cabeça da minha mãe antes de me sentar. Peço desculpas pelo atraso e também pelo palavrão que falei ao telefone.
— Soube que vai viajar a Sevilla? Sentiu saudades das espanholas, meu irmão?
Mal sabia ele que era de apenas uma, uma única espanhola que virou minha vida do avesso
— Desta vez, será a trabalho, mas quem sabe não visito um daqueles lugares em que elas dançam flamenco — solto uma piscadela para o Theo e ele sorri de lado.
Lembro que naquela ocasião nós fizemos toda a Andaluzia pegar fogo. Era a última viagem do meu irmão como homem solteiro e eu estava de férias, então aproveitamos ao máximo. Quando conheci a espanhola desconhecida, Theo, milagrosamente não estava ao meu lado. Ele não acredita nessa minha paixão toda, mas acredita que ela, a espanhola, exista.
— Vai tentar encontrar a sua amada? Aquela que só existe na sua cabeça? — diz dona Margarida, com ironia, quando bebe do seu vinho do porto. Pois é, ela me zoava sobre o assunto.
— Mãe, por favor... — bufo em desagrado. — Já falei que ela é real, e que irei encontrá-la nessa viagem, custe o que custar...
— Sabe onde ela mora? No que trabalha? Telefone, redes sociais? Thiago, meu filho, você não sabe nem o nome dessa... assombração. Como acha que vai encontrá-la? Por telepatia?
Meu irmão e eu ficamos de boca aberta com as palavras da minha mãe.
— Tendo a senhora como mãe, para que inimigos?! — chamo o garçom e peço que traga uma dose do melhor bourbon da casa.
— Dona Margarida, acha que não pegou meio pesado com o Thiago? — diz Theo, tomando da sua cerveja.
— Só quero que seu irmão, como vocês dizem, caia na real. E se quer namorar alguém, que arrume uma garota que seja de verdade, não alguém que ele se apaixonou quando estava bêbado.
— Eu lembro bem do que vi e fiz — cruzo os braços. — A bebida não me derrubou assim.

Eles trocam olhares de dúvida sobre a minha afirmação. Eu nunca estive tão sóbrio quanto da vez que conheci e beijei a espanhola. Antes que eu comece a me defender, o meu pedido chega. Decido que é melhor almoçar tranquilo e, quando eu voltar de viagem, irei mostrar a todos o quanto estavam errados em achar que a minha espanhola era um fantasma ou fruto do meu inconsciente. Espero...


Chegando a Sevilla, Espanha...
E tudo está igual há um ano. Estamos em abril, mês da Festa das Flores, a bendita comemoração em que a conheci. Decido descansar um pouco por conta da longa viagem e depois, com calma, começarei a procura-la. Visitarei cada lugar onde há possibilidade de reencontra-la. Tenho algumas reuniões só para amanhã, portanto o resto do dia de hoje será apenas o começo da aventura. Mas, antes preciso recarregar as baterias.
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Saindo do hotel, sigo direto para o centro. Passo em frente a catedral e faço o sinal da cruz, seguido de uma prece, pois preciso de toda ajuda possível neste primeiro dia na Andaluzia. Não sou um homem religioso, mas já que existem tantos santos, um deles bem que poderia me quebrar um galho, não é? Afinal de contas, encontrar uma mulher que não sei nem o nome não é tão complicado... Para uma divindade, é claro.  
Paro o carro na frente de um bar em Santa Cruz e entro, seguindo diretamente para o balcão. Aquele bairro é cheio de igrejas, ruas estreitas e praças, representando em seus locais mais conhecidos um pouco da história judaica. Ramón Valdez, o dono do bar Exprience’s, é um dos amigos que fiz quando passei por aqui. Ele abriu as portas de seu bar para que meu irmão fizesse uma pequena despedida de solteiro. É um cara que esbanja simpatia e o único, entre os mais próximos, que acredita de verdade na existência da minha mulher misteriosa existe.
¿Cómo estás? Hombre incansable y sin miedo!
Ramón me abraça e já me serve um Rebujito, bebida típica nesta época do ano.
Estoy bien, mi amigo! Na medida do possível.
— Soube por su hermano que voltou a Andaluzia a trabajo, certo? — sorri de lado, enquanto se senta ao meu lado.
— Sabe bem que não foi só por isso que voltei. — Olhando nos olhos azuis de Ramón, digo: — Preciso vê-la novamente e, desta vez, não ficarei só em carícias. Eu a quero para mim.
Ramón solta uma gargalhada e diz.
— Ela não é uma propriedade, cabrón! Como reagirão os habitantes ao ver que um estrangeiro, brasileño, levou embora a rosa más hermosa de Santa Cruz?
— Eu sabia que ela era real! — arregalo os olhos. — Você a conhece, não é mesmo?
Ele sorri de leve, parecendo debochar da minha surpresa.
— Ora, vamos! Todos aqui conhecem a Rosa Escarlate. Ela é a atração das noites na feira de Abril. Quando passa por essas ruas, rosas são jogadas diante dela, formando um tapete vermelho e as músicas são tocadas em alto volume para celebrar a sua passagem. Entendeu porque ela não é uma propriedade? Rosa é de todas as pessoas das ruas de Santa Cruz, e de toda Sevilla. É patrimônio Andaluz...
Analisando cada palavra de Ramón, começo a me lembrar da festa. Quando vi a espanhola pela primeira vez, estava na frente do bar quando uma chuva de rosas vermelhas cobriu a rua. Foi quando ela apareceu, caminhando por cima das flores segurando a ponta do vestido. Seus cabelos estavam soltos e brilhavam mais que a noite, dançando e sorrindo, toda sensual. Quis pegá-la naquela mesma hora e me perder naquele corpo...
— Oh! — Ramón estala os dedos na frente dos meus olhos e me puxa das lembranças. — Estava pensando nela, não é mesmo?
— Por favor, meu amigo, diga-me: onde posso encontrá-la?
Com os olhos estreitos, Ramón me fita de cima a baixo e diz.
— Ela irá encontrá-lo... Se quiser, é claro.
— Eu não gosto desse tipo de jogo — irritado, bato com força o punho fechado no balcão do bar.
— Se quiser ver a Rosa Escarlate novamente, terá que aprender a jogar e ser mais esperto que ela. — Ele se vira e segue até a porta da cozinha. — Ninguém sabe nada sobre essa mulher. Se quiser investigar para ver se acha algo, vá em frente, mas garanto que não irá descobrir muito além do que eu já disse.
Ramón some de vista e me deixa só, perdido nas lembranças que tenho da espanhola. Ela tem um nome, impossível de esquecer, quase que de uma heroína de história em quadrinhos...
Rosa Escarlate.
Sento em uma das banquetas, pego o Rebujito que o Ramón me serviu e bebo um pouco. Ouço uma cantoria vinda do lado de fora e vou até a janela para olhar. Um grupo de pessoas descia a rua, vindos de uma das praças que dava em frente ao bar do Ramón.  Eram seis músicos, mais umas dez pessoas, talvez turistas, completando o “cortejo”.  As palmas ditam o ritmo da música junto com as batidas de uma bulería tocada pelo violão, cantada pelas mais diversas vozes que tomam as ruas estreitas do bairro de Santa Cruz. O cortejo para, e os homens que tocam e cantam formam um círculo. Ao redor deles, as pessoas batem palmas e entoam a canção junto com os músicos.
Algumas espanholas, trajando vestidos longos, justos no corpo e cheio de babados, dançam flamenco no centro do círculo. Observo de dentro do bar cada detalhe da dança e de suas roupas. O ritmo é contagiante e eu não resisto. Como uma criança, saio do bar e me junto a roda de dança flamenca. É inevitável não começar a bater o pé ou tamborilar os dedos na perna. Não sei nada de dança, nem por onde começar, mas admiro cada gesto, a maneira como parecem livres e felizes, festejando a vida.
De repente, as vozes se calam e só um dos músicos cantarola, um som sensual e ligeiramente acelerado, como deve ser uma autêntica bulería. Todos os olhares se voltam para outra ponta do círculo onde um caminho é aberto e uma mulher, vestida de vermelho e preto aparece, segurando a ponta de seu vestido. De longe, meus olhos não a reconhecem, mas meu coração palpita, acelera e, no fundo, sei que a minha busca terminou. Atravesso a multidão à minha frente para enxerga-la melhor.
Seus olhos estão cobertos, parcialmente, pelos cabelos negros e brilhantes. Ela dança mostrando toda a sensualidade que me excitou desde que a vi pela primeira vez. Vejo seu peito subir e descer por conta da respiração, mas ela não perde o fôlego. Parece incansável. A cada volta da música, ela joga as mãos e a cabeça para trás, fazendo uma coreografia hipnotizante. Os outros músicos que só seguravam os violões começam a bater palma e um deles solta um grito, como se estivesse marcando o compasso da canção. Tudo isso é um espetáculo que estou tendo o privilégio de ver com os meus próprios olhos.
Quando a espanhola misteriosa levanta a cabeça e seus cabelos são jogados para trás, vejo seu rosto inesquecível. Os olhos castanhos, sua boca carnuda sorrindo, desinibida. Por impulso, entro no círculo, mas não me aproximo muito dela. Começo a dar voltas, tentando acompanha-la na dança, completamente desengonçado e cheio de tesão.
Mas não me importava. A razão pela qual eu voltei a Sevilla estava dançando na minha frente, a mulher que me fez por várias noites perder o sono a poucos metros de mim... Não seria o meu pau duro por ela, marcando a calça, que me faria perder a magia daquele momento.
Eu estava, mais uma vez, enredado na sedução arrebatadora daquela mulher. Fui sugado por seus olhos e viajei em seus lábios. Era ela! Era a Rosa Escarlate. A minha espanhola.
Devagar, volto para onde estava, mas sou empurrado, propositalmente, para o centro do círculo novamente. Olho de lado e vejo o sacana do Ramón. Não sei se o agradeço ou o mando para o inferno. Eu quero tocá-la, mas me mantenho à uma distância segura, para não a afugentar. Mas ela me cerca, encosta as mãos na minha cintura e sinto seu nariz tocar, de leve, meu pescoço. Desejei estar só, sem aquela multidão por perto para poder rasgar aquele vestido, contemplar toda sua nudez e vê-la gemer, quando eu mergulhar dentro dela.
¿Qué se puede volver a Sevilla?
— Você — digo sem rodeios. — Eu quero você. Por isso, voltei a Sevilla.
Ela dá a volta e para em minha frente.
¿Se olvida de mis besos?
Digo que sim com a cabeça e seguro seu pulso. Ela para a dança e olha, com indiferença, para minha mão segurando seu pulso.
Disculpe — digo, envergonhado. Nunca tratei uma mulher assim, mas ela me deixava louco e tirava o pior de mim.
— Está desculpado, estrangeiro — diz em um sussurro e num português impecável. Ela se aproxima e suavemente beija meus lábios e me empurra, lhe dando espaço para que termine a sua dança.
Eu sabia que ela era tão real quanto a ereção que tenho no meio das coxas. Penso em como provaria para meu irmão e para minha mãe que a maldita e gostosa espanhola realmente existe... Tateio no bolso da calça, puxo o celular e começo a gravar a última parte da dança de Rosa Escarlate. Gravo até que os aplausos cessem e, por fim, envio para meu irmão com a legenda: Eu não estou louco. Ela não é uma assombração. Ela é real e perfeita.
Quando olho ao meu redor, vejo a multidão se dissipar e mais uma vez ela desaparece.
— Isso só pode ser brincadeira!

A festa das flores...
É, na verdade, uma das manifestações culturais mais legais que já participei. Afinal, foi ela que trouxe a deliciosa da Rosa para a minha vida. Sei que pareço um bobo apaixonado cheio de pensamentos clichês falando desse jeito, sem noção do que é, na verdade, o tal do amor que todos esperam. Contudo, estou entregue a paixão louca que sinto por essa mulher.
Sentado à beira da piscina do hotel onde estou hospedado, com o jornal local aberto, vejo as fotos da festa e reparo em cada detalhe. Talvez encontre o rosto de Rosa Escarlate, em meio a tantos outros nas imagens. Essa obsessão pode acabar comigo, mas, se eu puder ter essa mulher em meus braços, terá valido a pena.
Como dizem no Brasil: “estou com os quatro pneus arriados por essa mulher”. Se minha mãe me visse agora, com certeza pediria uma margarita e diria: eu avisei que essa sujeitinha te viraria a cabeça do avesso. Fecho o jornal e jogo a cabeça para trás, os olhos fechados. Tento afastar a voz autoritária da dona Margarida de dentro da minha cabeça.
— Isso não é normal, Thiago. Isso não é normal... — digo, baixinho.
Señor, Riva — diz um dos funcionários do hotel se aproximando com um telefone na mão. — Teléfono para usted.
— Gracias — digo, pegando o telefone.
Deixei o número do hotel onde estou em Sevilla com todos no Brasil, para me localizarem caso seja necessário. Por que não me ligaram no celular? Daí eu me lembro que o deixei dentro do quarto. Ontem cheguei tão aturdido que joguei o celular em algum lugar no quarto e até aquele momento nem tinha me lembrado dele.
Onde estou com a cabeça? Esta é uma regra básica: um empresário nunca fica sem celular. Caramba, até nisso estou sendo negligente. Culpa da paixão...
— Thiago, meu irmão! O que aconteceu? Por que não atendeu o celular? — A voz de Theo vai de preocupada à curiosa em poucas palavras.
— Foi mal, cara — esfrego os olhos. — Depois de ontem, parece que fiquei meio entorpecido. Essa mulher é uma droga pior que cocaína.
Ele fica em silêncio, que dura alguns segundos antes dele desatar a rir.
— Você só pode estar de sacanagem?! — gargalha. — Tem noção do que acabou de falar? Você acabou de admitir que ela te faz mal...
— Sacanagem é o que ela faz comigo. E não, não é desse jeito que você está pensando — coço a nuca.
— De que jeito seria? Ah, conta outra, cara!
Ele tem razão. Viajar até a Europa para encontrar uma mulher que até então não sabia nem o nome. Realmente, eu não estou normal.
— Você viu o vídeo, Theo! Ela existe. Ela é incrível e todos homens caem de joelhos por ela.
Lembro-me de como fiquei ao tê-la bem perto de mim novamente. Parecia que o tempo tinha parado e não enxergava mais ninguém ao meu redor. Somente ela.
— O que pensa em fazer? Digo, depois de vê-la ontem, dançando na sua frente, depois que ela habló con usted, o que pensa em fazer?
Respiro fundo.
— Hoje começa a Festa das Flores. Voltarei ao bairro de Santa Cruz, e nem que eu precise varar a madrugada, vou encontrá-la.
— Essa sua obstinação é caso para um psiquiatra. Você está doidão, meu irmão, maluco total. Só espero que não se meta em alguma enrascada indo atrás dessa mulher...
— Sei me cuidar, irmão. Agora, se me der licença — levanto da cadeira e ando até a recepção do hotel — preciso desligar. Tenho um dia cheio. Até breve, Theo.
¡Hasta luego! — ele se despede, em espanhol, tirando sarro da minha situação.
Sorrio e desligo. Entrego o telefone a recepcionista e sigo para o meu quarto. Antes de ir à festa, preciso resolver alguns assuntos do trabalho. Tenho uma reunião importante com importadores da região. Sorte nos negócios, até tenho, já no amor... é algo que precisa ser estudado pela NASA.
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Já a noite, caminho pelas ruas estreitas e coloridas de Santa Cruz, vendo vários grupos tocando músicas típicas enquanto algumas espanholas dançam. Mas nenhuma delas é a minha.
Na praça Dona Elvira, ergo meus olhos para ver as estrelas. Sento em um dos bancos decorados com azulejos e fico observando quem passa. Casais apaixonados trocando carícias, mulheres esperando seus parceiros para um encontro e vice e versa, amigos sentados em mesas de um bar qualquer bebendo e falando como farão para agradar suas esposas que estão em casa. Ver tudo isso me faz chegar à conclusão de que meu destino é viver solteiro, pois não me encaixo em nenhumas dessas vidas.
Ouço uma música vinda do começo da praça, e as pessoas dali começam a bater palmas, seguindo o ritmo das batidas dos tambores. Respiro fundo e fecho os olhos, começando a crer que foi um erro vir até aqui, pois cada espanhola que vejo dançando nessas rodas, acho ser Rosa. Esfrego os olhos e quando os abro, mesmo que um pouco embaçada, a cor vermelha viva enche a minha visão. Ergo a cabeça devagar e fito seu rosto marcante diante de mim. Uma mecha de seu cabelo forma uma meia lua na sua testa e, observando com mais atenção, vejo uma pinta do lado do seu olho direito. Ela está com o cabelos presos e rosas vermelhas enfeitam o alto de sua cabeça. Com uma das mãos na cintura, ela se aproxima de mim mais uma vez.
— O que quer? Enlouquecer-me? Se for isso, já conseguiu. Já estou rendido, caído aos seus pés. Completamente de quatro por vocêdigo a última palavra com raiva, mas de mim mesmo.
Rosa Escarlate se aproxima e senta ao meu lado, ignorando o fato de eu estar pronto para sequestra-la e leva-la para longe de toda aquela multidão. Transforma-la em só minha. Ela ignora a todos, os olhos fixos nos meus. Respiro fundo e torço para que meus instintos de homem primitivo não aflorem. Sentir seu perfume é que como se eu tomasse uma injeção de excitação.
— Por favor, Rosa... não...
Ela toca meu rosto e me beija suavemente na bochecha. Fico parado, não movo um músculo do meu corpo.
— Só posso ser sua por uma noite, e nada mais — sussurra em meu ouvido.
— Por que? — viro o meu rosto para encara-la.
— Porque o meu lugar é aqui, em Sevilla.
— Tenho tantas perguntas... Eu passei todo esse ano pensando em como te reencontrar, em como te convencer a ir embora comigo. Pensei em até te levar à força se fosse preciso...
Ela sorri.
— Está rindo do quanto eu sou idiota? — faço menção de me levantar, mas ela me segura pelo braço.
Perdona-me se achou que estava rindo de você. Eu nunca havia me enamorado por un hombre come usted. És um estrangeiro que roubou meu coração.
Arregalo os olhos com a declaração repentina de Rosa.
— Por que nunca me disse nem seu nome?
— Por medo.
— Medo?
Ela abaixa a cabeça. Fica triste de repente, me deixando confuso.
— Minha família nunca permitiria meu relacionamento com um estrangeiro. Meus cinco irmãos, me padre y me madre, nunca aceitariam que sua única filha se encantasse por um homem de fora.
“Em que século estamos?”
— Isso é ridículo, Rosa. Por Deus! — abaixo a cabeça com a mão na testa que já está suada devido ao meu nervosismo.
Ela segura minha mão e diz:
— Eu tenho uma foto sua. Procurei saber de você com a ajuda de Ramón...
Aquele judeu fajuto, filho da mãe! Sabia de tudo sobre a Rosa e não me contou.
— Vou matar aquele judeu mexicano de merda!
— Eu que pedi para que ele não contasse nada. Ele, o Ramón, me deu uma foto sua, quando você tinha ido embora. Disse que tirou da internet de um site sobre negócios e empresas... — Ela respira fundo, está emocionada.
Seguro sua mão e olho no fundo de seus olhos castanhos.
— Por que esse mistério? Por que o jogo? — franzo a testa, querendo a verdade.
— Eu vivo presa em um palacete. Não tenho direto nem de sair sozinha. As mulheres de casa não podem ter contato com nenhum homem de fora. A não ser que meu pai e meus irmãos permitam — Ela respira fundo e aflita, entrelaça as mãos. — Por isso, eu fiz um acordo com meu pai: que sairia com Carlota, minha prima, uma vez por ano para participar da Festa das Flores. Ele relutou, mas depois cedeu. Mesmo com sua dureza, meu pai, às vezes, mostra ter um coração maleável. Enfim, com a ajuda dessa minha prima, decidi criar esse personagem que só aparece na época da Festa. Só para dançar, compreendes? Mas as coisas cresceram e acabei virando uma fantasia dos homens de Sevilla e dos estrangeiros. A misteriosa Rosa Escarlate, a espanhola. — Ela segura as minhas mãos. — Tudo estava bem. Meu coração não sofria pelos homens. Eu, inclusive me vingava daqueles que eram como meu pai, deixando-os caídos aos meus pés... Até que você apareceu... — Ela solta minha mão e abaixa a cabeça.
Balanço a cabeça sem entender onde ela quer chegar. Passo as mãos nos cabelos, estou confuso...
— Deixa-me ver se entendi... — levanto o dedo indicador — Você tem um pai e irmãos que não te deixam ser quem você é. Tratam-na como um objeto. Não querem que tenha um relacionamento com outro homem que não seja aquele que eles escolherem... É isso mesmo?! — ela balança a cabeça, confirmando. — Seu nome é Rosa ou também é falso?
Ela sorri, mas de um jeito triste. Tocando meu queixo, ela responde:
— Rosalinda Herrera Santbañes.
— Você é filha do mafioso Herrera Santbañes, o El Toro? — digo, estreitando o olhar.
Espantada por saber que eu sei quem é o seu pai, ela diz que sim.
— De onde conhece mi padre?
— Seu pai é famoso. No Brasil, ele é uma lenda do crime internacional.
Rosa fica séria. Com certeza se incomodou com o que eu disse.
Mi padre não é um monstro criminoso como todos dizem. — Ela se levanta do banco. — Foi um erro ter lhe contado tudo.
Rosalinda sai pisando duro. Está chateada. E eu, sem pestanejar, a sigo. Depois de toda essa revelação, de descobrir que ela também está apaixonada por mim, não vou deixar que se vá de uma vez por todas. Não mesmo.
Seguro seu braço e a puxo para perto. Ela se debate, mas logo aquieta. Nos encaramos por alguns segundos e o beijo é inevitável. Sentir meus lábios nos seus é como se toda minha vida dependesse daquele contato. Um beijo coberto de paixão e excitação.
Sinto-me vivo. Os lábios de Rosa são quentes, seu beijo me faz ferver. Ela se rende ao que sentimos, finalmente, e eu a seguro com força pela cintura. Mordisco seus lábios, enquanto ela prende minha cabeça com as mãos para que eu não me afaste.  Minutos de puro desejo representados em um único beijo.
— Vem comigo para o Brasil — digo, com os lábios próximos aos dela.
— Já disse que não posso. Não me coloque nessa situação...
Calo-a com mais um beijo, mas ela me afasta.
— Isso é um costume medieval. Estamos no século vinte e um. As mulheres não são objetos. Elas têm vida própria e podem fazer o que quiserem, não são propriedades. Você pode ser o que quiser e viver da maneira que bem entender.
Ela, ainda segurando minha cabeça entre as mãos, diz, olhando em meus olhos:
— Por isso a Rosa Escarlate existe. Ela representa cada mulher que tem a voz, os desejos e ambições calados por um machismo que diz protegê-las. Eu só me sinto livre quando estou vestida de Rosa Escarlate.
A vontade de tira-la dessa tirania absurda só aumenta dentro de mim.
— Para proteger, não precisa reprimir— digo, beijando sua testa. — Eles não te protegem, te oprimem. Isso não é vida, minha linda — passo o polegar direito no seu rosto e limpo uma lágrima que desce.
— Eu queria ter a coragem que a Rosa Escarlate tem — ela me abraça e repousa sua cabeça em meu peito.
— Você tem essa coragem, minha espanhola — abraço Rosalinda com força. Eu quero protegê-la, para sempre.
Ela ainda relutou em vir para o hotel, mas como promessa que fez a si mesma de passar uma noite comigo não podia ser quebrada, ela veio. 


C O N T I N U A...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Conto 1 da Série - Tentação "Thirst"



Uma sexta à noite...

Se falassem que estar divorciada seria tão libertador, teria me divorciado a muito mais tempo. No meu caso, que me casei com um cara que era um verdadeiro bunda mole e que só pensava em futebol, e em como comer outras mulheres, eu deveria ter sido avisada com antecedência para não cometer uma das maiores burradas da minha vida.
Eu achava que tudo eram flores e que o amor venceria qualquer barreira. Toda essa balela de príncipe encantado, eu acreditava. Fui uma trouxa.  Descobri que meu lindo marido, tinha outra família. Ele me traia desde o primeiro ano que nos casamos. Minha mãe e irmã pediram para denuncia-lo e processa-lo por bigamia, mas ele não era casado no papel com a outra, só comigo.  Fiquei devastada ao saber disso.
A única coisa boa que sobrou dessa droga de casamento foi o nosso filho Gabriel, meu anjinho. Juro que não fiz uma besteira tipo: arrancar a cabeça do meu marido, por causa dele, do meu filhote. Porque a vontade que tive quando descobri toda canalhice do meu marido, era cortar o pau dele fora.
Acabar de vez, com a área de diversão dele!
Já fazem exatos dois anos que estou livre daquele encosto, mas, parece que a urucubaca ficou impregnada. Com certeza ele deve ter soltado algum mal olhado para cima de mim. Não transo com ninguém desde que me separei, nem sei mais como flerta com alguém. Ainda se usa essa palavra, flertar? Isso é frustrante. Às vezes, me olho no espelho e penso que não sou boa o bastante para nada disso. Penso que não deve ser só falta de sorte, mas também falta de outras coisas ou excesso de algumas.
Depois da gravidez ganhei peso e nunca mais voltei ao meu peso antigo. Fiz várias dietas milagrosas, contudo, nenhum milagre aconteceu. Descobri que uma disfunção hormonal dificulta minha perca de peso. É fatídico. Porém estou me tratando, sou uma gordinha com a saúde bem cuidada.
Trabalho muito em casa cuidando do Biel, e na escola sendo professora não só dele, mas de outros trintas alunos, divididos em duas turmas, na faixa dos seis anos. Uma loucura. Dou aulas nos dois horários. O meu filho é meu aluno na parte da manhã, mas tem dias que ele passa o dia na escola quando não encontro alguém que fique com ele. Isso é cansativo não só para mim, mas para ele também, coitadinho. Queria fazer mais por meu filho.
 Hoje, por sorte, minha irmã está de folga e pediu que levasse o Gabriel para passar a noite de sexta em sua casa. Estou voltando para casa para me arrumar e cair na balada com as amigas. Fui quase intimida a sair hoje à noite e esquecer dos problemas diários. Não gosto de sair na noite de folga, sempre a uso para colocar o trabalho em dia, mas por pressão da minha irmã e das minhas amigas da escola resolvi me dar uma chance. Lembro da conversa que tive agora pouco com Elizabeth, minha irmã. Ela dizia:
― Você tem vinte e seis anos, é uma mulher linda, inteligente e não pode passar todas as noites de sexta enfurnada dentro de casa ― disse Beth com as mãos na cintura parecendo nossa mãe quando nos dava conselhos.
― Ah Beth, para ― falei com indiferença. ― Eu não fico enfurnada dentro de casa. ― Enfatizei a palavra enfurnada.
Beth pegou um travesseiro e jogou na minha cara enquanto eu fazia uma expressão de “não tô nem aí para o mundo”.
― A quanto tempo você não transa?
― Beth! Não preciso de homem nenhum na minha cama. Que pergunta imprópria!
Ela sorriu irônica e disse:
― Ah, minha irmã! Precisa sim. Toda mulher precisa de alguém que a abrace forte e diga, ao pé do ouvido com aquela voz grave, rouca, o quanto está louco de tesão por seu corpo ― ela pegou o travesseiro e o agarrou, começou a beijá-lo e fez um movimento sensual com as mãos. ― E impróprio, é você ficar sem ter isso nem que seja por uma noite.
― Isso é patético, minha irmã ― revirei os olhos.
― Vai por mim. Hoje à noite você vai encontrar um monumento de homem, com cabelos longos e rebeldes, tatuado e de barba, com braços fortes e um sorriso estonteante. ― Ela apertou o travesseiro e depois o jogou de lado.
Estou até agora pesando no delírio tentador da minha irmã. Já falei que ela é louca? Ela é perturbada, mas a adoro.
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Indecisa, é como estou em frente a um monte de roupas que não consigo escolher para sair daqui a algumas horas. Minhas amigas já me ligaram perguntando como estão os preparativos para a balada. Não sabia que existia uma ritual pré-balada, pensei que era só usar um vestido bonito e pronto.
Preciso de música, acho que colocando uma canção animada talvez eu me sinta empolgada e decida que vestido usar. Ligo o som que fica no meu quarto e End of Time da Beyoncé começa a tocar.
Separo quatro vestidos, que tem potencial para uma noite como esta. Depois de um tempo afastada do mundo da paquera, me sinto um alien em um planeta diferente, não sei nem o que escolher para vestir. Oh derrota!
Pego o que seria a primeira opção de vestido que usaria, e coloco sobre meu corpo. Olho no espelho e não me agrado com o que vejo. É um vestido laranja com alças finas e saia de tule. Horrível. Não sei onde estava com a cabeça quando comprei essa roupa estranha. Ah, lembrei! Foi para um baile de carnaval. Jogo o vestido sobre o monte de outros vestidos. Não usarei essa fantasia, irei parecer um abobora de tule.
Segundo vestido: um verde musgo, com saia drapeada, sem decote. Tem gola rolê, sem mangas. Definitivamente, acho que irei parecer um OVINI. A frustração começa a tomar conta do meu emocional. Perdi o jeito para essas coisas.
Terceiro vestido: um azul marinho, com alças grossas e saia plissada midi. Olhei por várias vezes, com ele sobre meu corpo, ao espelho e não consegui me ver dentro dessa roupa para sair à noite. Se fosse para o trabalho, acho que ficaria melhor. Penduro o vestido dentro do guarda-roupa junto as peças que uso para ir trabalhar.
Quarta opção: dessa vez é uma saia godê em tons de preto e cinza, que chega até os joelhos. E uma blusa tomara que caia, com babados na cor branca.
Será que vai servir? Será que ficarei feia? Será? Ai meu Deus, quantos serás!
Olho para outros vestidos, todos muito brilhantes, e exuberantes e eu não me vejo mais usando nenhum desses. Se fosse nos tempos de solteira, talvez usaria. Aquele tempo em que usava e abusava do decote e da saia curta, tudo com muito brilho. Meu corpo era diferente, não tinha barriguinha. Meus braços e pernas eram até um pouco torneados. Mas hoje, estou com uns quilinhos a mais, e um pouco preocupada com o que os outros irão pensar.
Sento na beira da cama com a roupa nas mãos e fico tentada a desistir de sair. Meu celular toca e é uma mensagem da Joana, uma das minhas amigas, a mais louca de todas.
Esteja pronta em 20 minutos. Já tô chegando”
Depois dessa intimação, só me resta tomar uma dose grande de coragem e ir à luta, quer dizer, a balada.




A balada

Sai de casa agarrada a esperança de que hoje, pelo menos, beijaria alguém, podia ser até alguém feinho ou bonitinho. Com tanto que fosse um beijo de verdade. Chegamos ao local onde seria a balada. Uma boate chamada: Tentação. Interessante! Será que os caras desse lugar são uma tentação? Na entrada, dou uma olhada discreta avaliadora pela fila, e vejo vários homens bonitos, alguns feinhos, outros bonitinhos. Espero que todos, ou grande parte dos espécimes masculinos da fila estejam solteiros e sejam héteros, será que é pedir muito? Acho que não.
Entramos na boate, e está bombando. Luzes, som no último volume, pessoas suadas e bem coladas, garçons passando de um lado para o outro. Meu coração palpita só por estar ali. Sinto-me velha e deslocada, e só tenho vinte e seis anos, e estou louca procurando um lugar para sentar.
Minhas amigas me puxam para o bar, sentamos nas banquetas, estamos em três. Peço uma Piña colada. Enquanto espero meu drink, fico reparando cada movimento dentro da boate. Preciso me concentrar em notar se estou sendo paquerada ou não. Olho do lado esquerdo e vejo dois caras se beijando. Dois homens lindos de morrer no maior amasso. Não nego que sinto um pouco de inveja em vê-los tão bem conectados. Uma pontinha de frustração aparece, porém tento não desistir. Olho para o lado direito e um homem que aparenta tem uns quarenta anos, cabelos curtos, olhos verdes, está me encarando. De frustração a esperança. Cutuquei com o cotovelo uma das minhas amigas. Nos duas o encaramos.
Mas, como o destino gosta de ser o vilão da minha vida, acontece o que temi. Vejo uma mulher se aproximando do quarentão charmoso. Ela o beija na boca e ele corresponde ao beijo com intensidade. Os dois só descolam quando a bebida dele é servida.
Destino, eu nunca te pedi nada, mas será que poderia colaborar comigo? Sair de casa sem vontade e já foi um grande esforço deixar meu filho com minha irmã, passei horas escolhendo o vestido que achei ideal, poxa! Será que poderia ser legal e me ajudar a não deixar minha autoestima ir para o quiabo?!
Volto-me para o bar girando na banqueta, bebo minha Piña colada, está uma delícia. Acho que só isso será gostoso na noite de hoje. Minhas amigas insistem para que eu me jogue na pista e dance como se não houvesse amanhã, mas não tenho vontade. Estou frustrada comigo e com a vida.
Direciono meu olhar para o meio da pista, e vejo um dos garçons colocando, bem no meio da roda que as pessoas fizeram, uma bengala luxuosa. Tipo aquelas de filme de mafioso. Estranho, mas engraçado ver aquele povo gritando: “Dança da bengala! Dança da bengala!”
Viro-me para o barman e pergunto o porquê de todo esse alvoroço por uma bengala.
― É a primeira vez que vem ao Tentação?
Respondo que sim com um aceno de cabeça enquanto tomo um pouco do meu drink.
― Então, vou te explicar a brincadeira — ele apoia os cotovelos no balcão e aponta para pista de dança. — A bengala é colocada na roda e alguém tem que dançar com ela, a música que o DJ colocar. E só tem uma regra.
― Qual regra seria? ― digo curiosa.
― Dançar acompanhado ― ele sorri. ― A diversão é garantida.
― Que brincadeira idiota ― digo com indiferença.
― Brincadeira idiota seria se boa parte dos que dançam com a bengala não fossem casados, e não estivessem chapados e no dia seguinte não lembrassem de nada. Relacionamentos foram postos a prova por conta da dança da bengala.
— É só não ficar bêbado. Simples assim.
― Impossível não ficar, pois colocam a bengala já no alta da festa, quando a boate está bombando, como agora. Ou seja, muitos chapados dançam de tudo, e quando digo de tudo, é tudo mesmo — o barman sorri de lado.
Afinal, qual a graça em dançar com uma bengala, no meio de uma boate, estando bêbado?
― Se não acredita como é divertido, olha lá ― aponta para a roda de pessoas. ― Aquele é o Nick, o rebelde. Ele é o que mais dança com a bengala. Quase todas as noites que dança, ele leva uma garota embora e só o vemos uma semana depois.
Um garanhão safado que pega uma toda semana! Tô correndo desses, também.
Meu olhar se fixa bem no meio da roda, onde estão a bengala e o tal do Nick, o rebelde. Ele se aproxima, anda gingando como se fosse um animal sorrateiro que quer abocanhar sua vítima. Ele tem cabelos grandes que passam das orelhas, barba grossa e bem aparada, ombros largos. Está usando uma camisa com gola v e noto a ponta de uma tatuagem sobre seu peito no lado direito.
Pisco várias vezes, não acreditando no que vejo. Lembro de imediato do que minha irmã me falou. Será que agora minha irmã é vidente? Não, isso é muita coincidência. Será que ela combinou algo com esse cara? Meu Deus! Se for isso, juro que a esfolo viva.
O tal do Nick rebelde começa a dançar. Segurando a bengala, ele faz movimentos sensuais, rebola, desce até o chão. Ele coloca a bengala junto ao tórax e faz um movimento de vai e vem. É sensual para um homem com o porte físico dele, mas é tão engraçado quanto. Na verdade, não sei do que acho graça, se do tal Nick rebelde com cara de safado dançando com uma bengala, ou de mim que estou vendo sensualidade nessa dança estranha. Não sei se o cara é dançarino, porque se for, precisa de mais aulas.
O DJ cessa a música a pedido do Nick. Todos ficam em silêncio. Eu fico em silêncio, congelada, paralisada sem mexer um pedacinho do meu corpinho. O Nick aproxima-se de mim. Com aquele gingado, rodando a bengala, sorriso de lado, cabelo caído nos olhos, ele está um pouco ofegante pela dança.
Com a cabeça abaixada, ele para na minha frente e se sustenta na bengala de mafioso, pendendo levemente seu corpo para o lado direito. Ergue vagarosamente a cabeça e me encara, sinto um frio na espinha. Fazia séculos que não recebia esse tipo de “olhada”. Seu olhar é enigmático, penetrante, marcante e totalmente sedento. Sou sugada por seus olhos escuros. Controlo minha respiração, não quero parecer uma menina virgem que nunca foi notada por um homem, não mesmo. Em hipótese alguma, jamais estremeça diante de um homem bonito, é quase impossível, mas não podemos ser o sexo frágil sempre.
Nick estende a mão e por educação, nada mais que educação, pois sou uma mulher educada, seguro sua mão... A quem quero enganar? Quero pegar em outras partes dele.
— Concede-me a honra desta dança, linda jovem? — diz com os lábios próximos ao dorso da minha mão e depois o beija.
É inevitável não ficar arrepiada. A voz dele é grave, um pouco rouca e me faz viajar ao céu. Sem perder o controle, pois eu sou forte, lhe respondo:
— Acho que um elogio tão clichê, não me fará levantar de onde estou bem confortavelmente sentada, tomando meu delicioso drink, para dançar com um desconhecido e sua bengala de madeira nobre — me viro de costas para ele.
Ele solta um sorriso sarcástico e se aproxima ainda mais. Sinto sua respiração bem no meu ombro. Juro que se ele tentar alguma gracinha, rodo o copo de Piña colada bem no meio de sua cara safada.
Quando eu te chamei de linda, não foi só um elogio. Foi a constatação de um fato, e isso me deixa louco de tesão. Linda.
A palavra “Linda” sai de sua boca como um sussurro, e afirmo, acho que não sou tão forte como pensei que fosse. Se por fora pareço difícil, por dentro estou derretida. Estou jogada na via expressa.
— O que te deixa louco de tesão? Me fazer um elogio?
— Não, o elogio é algo mecânico da minha parte. O que me deixa louco de tesão, é ver de perto o quanto você é linda. Puta que pariu, gata! Vem dançar comigo, vem?
Encaro de frente o homem que está me deixando com uma mistura densa de sentimentos. Insegurança, medo de ser um desastre dançando e sede de experimentar algo novo. O sorriso de lado que estampa o rosto de Nick, me apetece e sou levada por meus impulsos. Mesmo tremendo por dentro de tanta insegurança, me desarmo e sigo meus instintos
Ele estende a mão mais uma vez e eu a seguro com força. Levanto-me da banqueta do bar e ouço um sorrisinho do barman, viro meu rosto de lado para encara-lo, o rapaz para de sorrir e ergue as mãos em sinal de desculpas. Qual a piada?
Nick levanta a bengala e aponta para o DJ, de imediato ele entende o sinal e volta a tocar a música que tocava antes. “Thirsty” da Mariah Carey é o som da vez. As pessoas que estão na roda aplaudem, gritam e assobiam.
Coloco-me em frente a Nick, ergo um pouco a cabeça para olhar em seus olhos que estão estreitos me encarando. Ele segura a bengala pela ponta prateada e a coloca em sua frente. Indica com o queixo que quer minha colaboração. Coloco minhas mãos sobre as dele na ponta da bengala. Começamos a dançar, ele começa a dançar com toda sua desenvoltura e habilidade que não sei de onde sairiam. Acho que antes não queria ver, e por isso achei que ele não dançava bem, mas ele incrível.
Ele segura a bengala com as duas mãos e me prende ao seu corpo, fico encurralada. Sinto o roçar da barba do Nick em meu pescoço, isso é tentador. Ele me guia de acordo com a batida da música e sigo seus passos. Nick remexe o quadril e eu vou junto no mesmo ritmo. Ele me vira de frente e minha boca fica poucos centímetros da sua.
Dançamos assim, nos encarando, nos medindo. Ele não tira os olhos da minha boca, parece deseja-la como um homem perdido no deserto a procura de água. Mordo meu lábio, Nick solta um gemido que só eu escuto. Entrelaço meus braços em seu pescoço enquanto ele me prende ao seu corpo com a ajuda da bengala. Acabado de perder o medo, a insegurança e a tensão que sentia ao entrar nessa boate, viram pó. Entrego-me de vez ao Nick em sua dança sensual. E detalhe, não bebi muito.
Eu quero ver até onde isso vai dar, estou gostando dessa brincadeira.
Acho que realmente eu precisava de uma noite fora de toda minha rotina. Esquecer um pouco dos estresses do dia a dia, às vezes, é necessário. Se não for assim, somos consumidos pelos problemas e a vida escapa por entre nossos dedos igual areia fina.
Agora sei porque fizeram tanta questão que eu saísse, sinto-me leve em poucos minutos de uma dança em uma brincadeira boba com uma bengala e um belo desconhecido.
Já no final da música, Nick me gira. Seguro numa ponta da bengala enquanto ele segura na outra, e me girando de volta para junto de seu corpo, ele me beija. Afasto minha boca da sua e digo:
— Isso está rápido demais, não acha?
— Não. Estava querendo te beijar desde que vi você entrar nessa boate, minha linda.
Fixo meu olhar no seu, e eu que o beijo dessa vez. Um beijo sedento, cheio de desejo, voraz. Há anos que não beijava alguém desse jeito.
E eu achando que seria a excluída da balada, a que ninguém nem olharia. Como me enganei.






Sexo... Sem compromisso

A noite estrelada é encantadora. A Lua cheia dá um ar de mistério, e mistério é o que há no olhar de Nick. Quando saímos do Tentação, depois da dança da bengala, viemos comer alguma coisa em um lugar menos barulhento. É um restaurante que fica a duzentos metros da boate. Atencioso, Nick puxa a cadeira para que me sente, um cavalheiro. Fazemos nosso pedido, e enquanto esperamos, tomamos um vinho só para matar o tempo.
Conversamos sobre muita coisa. Para um primeiro encontro, nossa afinidade é rápida, parece até que nos conhecemos a meses. Reparo em cada movimento dele durante nossa conversa. Seu sorriso de canto é atraente, e seu rosto marcante fica ainda mais sexy com a barba bem aparada. As pálpebras são meio fechadas, o que deixa o seu olhar intrigante. Ombros largos, braços fortes. As tatuagens que cobrem parte do seu peito ficam visíveis por conta de sua camisa de gola em v.
Ele arregaça as mangas da camisa e as tatuagens se prologam por toda extensão de um de seus braços. Respiro fundo, e passo a língua para umedecer os lábios, que mesmo bebendo um vinho, estão secos. Nick sorri e se recosta na cadeira, cruza os braços e me encara, eu sorrio de volta.
Será que estamos flertando? É assim que se faz? Sorrir de volta de um jeito tímido, está certo? Mas que merda, parece que nunca dei para ninguém na vida!
Nosso pedido chega e antes, nos servimos de mais uma pouco de vinho. Jantamos em silêncio. Só ficamos na troca de olhares, nos toques das pontas dos dedos que acontecia sem querer. Parece que estou revivendo a época de solteira, onde tudo era sem compromisso, encontros casuais e flertes que terminavam em cima de uma cama ao fim de um sexo completamente arrebatador. Um filme da minha vida passa na minha cabeça.
Como pude passar tanto tempo sem sentir tais emoções?!
Jantar com um cara que conheci agora pouco, e parecer que somos íntimos é algo fora de cogitação para a mulher que me tornei depois do divórcio, em compensação isso me resgata e traz de volta um pouco da mulher que fui no passado.
Algumas corajosas mulheres, solteiras ou casadas deviam tentar isso um dia. Cair na noite, nem que seja para passar um pouco na bebida, sem se preocupar com a rotina diária que é cansativa. Os filhos nos tomam muito tempo, eu sei disso, mas às vezes, precisamos de um tempo só para nós. Os maridos, para quem é casada, nos tomam um tempo ainda maior, contudo precisamos de um espaço só nosso, às vezes. Eu sou divorciada e mãe, e tem dias que não tenho tempo nem para arrumar o cabelo.
Hoje, estou me redescobrindo como mulher.
Ele limpa sua boca sexy com um guardanapo, depois de tomar um pouco do seu vinho. Cada movimento do Nick é seguido por meus olhos, não tirei os olhos de cima dele desde que chegamos aqui. Ele estende a mão sobre a mesa e toca os dedos da minha mão direita, sinto um arrepio com o toque. Acaricia os meus dedos e ergue o olhar semicerrado, me fitando.
Se eu não fosse tão controlada, a cada olhada que ele me dá, juro que estaria com a calcinha ensopada.
— Estefânia, não é esse seu nome? — diz com um tom de voz rouco.
— Sim, mas prefiro que me chame de Fani, afinal de contas, nosso nível de intimidade já é bem elevado — dou piscadela.
Ele sorri de lado e completa:
— De fato, Fani — ele me encara e diz: — Quer ficar mais à vontade?
— Se for para ir a um motel barato e fedido, prefiro ir para minha casa. Não sai em plena na sexta à noite para finalizar o que seria uma noite divertida, em um motel de beira de estrada. Não mesmo — nego com a cabeça.
Ele gargalha e aperta minha mão na sua. O som do seu rouco sorriso mexe com a minha libido. Que homem é esse?
— Te garanto — ela puxa minha mão e beija suavemente. — Não é um motel de beira de estrada, mas se preferir podemos ir até meu aparta...
— Não mesmo. Te conheci hoje, nem era para estar aqui jantando. Imagina, ir na sua casa, deitar na sua cama? — balanço a cabeça em negativo. — Não sou uma garota tão fácil igual as que você está acostumado.
— Verdade, não é mesmo.
Arqueio a sobrancelha. Como assim, não sou mesmo?
— Você joga essa conversa em todas as tolas que dançam com você na boate. Seu safado — sorrio e puxo minha mão.
Ele recosta seu grande corpo na cadeira e relaxa os ombros, mas seus olhos não desgrudam de mim.
— Eu nunca trouxe uma garota para jantar depois da dança.
Oi? Como assim produção?
— Tipo: você dança, a mulher dá uma brecha e voo direto para a cama? — franzo o cenho.
Ele só concorda com um aceno de cabeça.
— Você é muito safado — gargalho. — Só que comigo...
— É diferente, eu sei. Senti que era diferente quando dançamos, sua energia me excita. Suas curvas me deixam louco.
— Ah parou! Que curvas? Tá de palhaçada comigo? — levanto irritada.
Pego minha bolsa e faço menção a sair do restaurante quando sinto Nick me segurar pelo braço.
— Aonde vai, Fani? Te ofendi? — diz sem entender.
— Claro que ofendeu? Onde raios eu tenho curvas? Eu sei que não sou uma mulher de curvas delineadas, exuberantes. Sei disso, mas sou uma gordinha feliz com meu corpo, tá?
Ele gargalha e não me solta.
— Por Deus! Você tem lindas curvas sim, e não é uma ofensa. Desculpa se entendeu desse jeito, não era minha intenção.
Ele se curva com a mão no peito, parecendo um Lord do século dezoito. Eu respiro fundo e com uma das mãos na cintura digo:
— Desculpa, tá? Eu que sou meio louca — volto para mesa.
— Relaxa — ele volta a se sentar. — Não é só porque é gordinha que não tem curvas.
— Ah, não? — digo com falsa perplexidade.
— Não. Suas curvas são sinuosas, sexys — pisca de um jeito cafajeste.
Não acredito que estou caindo nessa conversa!
— Nick, é melhor pararmos por aqui. Não quero terminar essa noite, que era para me divertir, chateada com um cara que juguei ser legal.
Ele arregala os olhos e diz:
— Você me acha legal?
— Acho...quer dizer, achava. Ah sei lá!
Ele sorri de lado, se levanta e estende a mão para mim.
— Vem comigo.
— Para onde? — finjo indiferença.
— Não faz essa cara e vem comigo. Vou garantir, pessoalmente, que sua noite seja incrível.
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É um hotel luxuoso, tipo cinco estrelas. Um lugar que você vê nas grandes revistas de turismo, como sendo o hotel ideal para quem não se preocupa com as despesas. Entramos e na recepção Nick é atendido com formalidade, e os funcionários do lugar o tratam como senhor Nicholas. Ele me conduz até o elevador e a curiosidade me deixa intrigada, então pergunto:
— Senhor Nicholas? Você vem sempre aqui, senhor Nicholas? — arqueio a sobrancelha.
Entramos no elevador e ele aperta o botão do vigésimo andar. Olha para mim e diz:
— Na verdade, sou o dono desse lugar — apoia um dos braços na parede do elevador.
— Uau!
Encosto-me de lado ficando de frente para ele. Mais uma troca de olhares e não resistimos. Nos beijamos ardentemente. Sedentos um pela boca do outro. O seu toque me faz arrepiar e a sede de querer mais dele me inebria. Ele segura minha nuca com uma mão, e a outra enfia por baixo da minha saia e aperta minha bunda com força. Gira nossos corpos, me prendendo contra a parede do elevador. Agarro seu pescoço, quero senti-lo mais perto. Ele passeia seus lábios por meu pescoço, desce até chegar no meu decote.
Na hora que ele ia beijar, o elevador para as portas se abrem. Três homens estão parados nos olhando. Com o susto empurro o Nick que quase sai do elevador. Ele se vira e encara os homens com chateação. Com a voz rouca e visivelmente irritado ele diz:
— Procurem outro elevador, por gentileza — aperta o botão e antes da porta fechar ele completa: — Esse aqui está ocupado.
A porta se fechar atrás dele.
— Nick...
— Onde paramos?
Ele me puxa pela cintura e volta a me beijar. Não reluto, estou entregue. Meus dedos se entrelaçam ao seu cabelo úmido e cheiroso. Esse cheiro de homem me excita, fazia tempo que não o sentia.
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Dentro do quarto sou praticamente jogada em cima da cama, e gostei disso. Essa pegada forte do Nick me deixa com os sentidos em alerta, em alerta de me entregar de uma vez. Apressadamente ele tira sua roupa ficando nu. Sua ereção avantajada me deixa com água na boca. Cada pedaço de seu corpo exala sedução, mistério e tesão. Seu peitoral expandido e definido, assim como seu abdômen e suas coxas poderosas fazem dele um conjunto completo para se usar e abusar.
Ele me ajuda a tirar minha roupa. Fico de calcinha e sutiã e, por impulso causado ainda pela vergonha do meu corpo, cruzo os braços em frente ao meu corpo. Não quero que o Nick se sinta mal com minha barriguinha. Com um olhar meio confuso ele diz:
— Por que a vergonha?
— Não me sinto bem em me mostrar assim para um homem.
Ele descruza meus braços delicadamente e leva as minhas mãos até sua boca, beijando cada ponta dos meus dedos.
— Fani, não tenha vergonha. Você é linda. É uma mulher linda, seu corpo é lindo e eu quero provar cada pedaço dele.
— Não se importar com minhas dobrinhas?
Ele balança a cabeça em negativo. Apoia-se nos joelhos e fica por cima de mim na cama. Minha atenção está voltada só para os movimentos do Nick.
— Suas dobrinhas são um detalhe. Um mero detalhe que me enche ainda mais de tesão.
Ele retira o meu sutiã e acaricia meus seios. Leva um deles a boca e o chupa com vontade. Respiro ofegante e entrelaço os dedos em seus cabelos. Ele suga o outro seio. Faz círculos com a língua na ponta do meu seio. Sinto meu sangue fervilhar e a boca secar. Ele repete esses movimentos várias vezes, me torturando descaradamente.
Com minha ajuda, Nick retira minha calcinha e fico completamente nua diante daquele homem tão perfeito. O magnetismo nos une, é algo evidente.
— Preciso te comer, Fani. Você está toda molhada, e isso faz meu pau quase explodir de tesão — diz enfiando dois dedos dentro da minha vagina.
Ofego. Não consigo formular nenhuma frase com nexo.
— Você quer? Quer que eu te foda sem piedade?
Ele não tira os dedos dentro de mim, e não consigo responder. Mas o desejo é tanto, que minha mente, meus sentidos, tudo de mim está rendido diante de Nick. Em resposta, balanço a cabeça em positivo.
— Gostosa!
Retira os dedos da minha vagina e em algum lugar perto da cama ele pega uma camisinha. Rasga o pacote com os dentes e veste sua ereção pulsante. Volta a colocar os dedos dentro de mim e os retira em seguida.
— Sinta como é gostosa — coloca os dedos na minha boca.
Chupo cada um deles e sinto meu gosto descer pela garganta. Oh céus, se ele continuar juro que gozo em seus dedos. Nick se deita na cama e me puxa para cima dele. Posiciona sua ereção bem na minha entrada e desliza para dentro me levando ao paraíso. Sou desconectada desse mundo e me conecto ao Nick.
Ele começa as estocadas. Ritmo acelerado, depois devagar, depois acelerado e assim até atingirmos o ápice da nossa foda sem compromisso. Gozamos juntos e isso é sensacional, pois durante os anos de casada eu conto nos dedos das mãos as vezes que gozei junto com meu ex-marido.
Nick é fodástico.
Ainda dentro de mim ele me abraça, beija meus lábios suavemente e diz:
— Que tal um bom banho de banheira e depois um vinho, aceita?
Digo sim com a cabeça, pois as palavras me faltam nesse momento de pós foda.
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A suíte é tão glamorosa quanto todo o hotel. Janelas panorâmicas e uma varanda espetacular que de onde toda cidade pode ser vista. Respiro fundo ao ver as luzes da metrópole. Enrolada num lençol branco, fico admirando a noite na varanda. Penso em tudo que passei desde que me separei. Na adaptação que enfrentei para criar meu filho sem a presença de uma figura masculina dentro de casa. Penso no que ouvi da minha família e amigos que insistiam em dizer: “Eu avisei que ele não prestava”.
Uma das piores partes de se estar divorciada era a falta de respeito, que sofri e sofro até hoje, por ser uma mulher sozinha com um filho a tiracolo. Muitos não sabem o que passei para terminar minha faculdade e seguir na carreira que estou hoje. Lembro que na época de faculdade eu era magrinha e todos os homens me comiam com os olhos, até curti com alguns, mas nunca desviei meu foco nos estudos. Hoje, depois que engordei, esses “homens” não me olham com tanto desejo, mas com pena. E isso me afetou, durante um tempo. O período de transição, até me tornar uma mulher livre desses fantasmas, foi longo e árduo, pois ainda sinto que feridas precisam ser fechadas. Porém só o tempo vai ajudar.
Estou progredindo. Quero ser uma mulher melhor a cada dia, para mim mesma e para meu filho.
Sinto as mãos exigentes de Nick envolver minha cintura. Olho de lado e vejo que ele está nu e com o membro quase duro. Ele roça a barba no canto do meu pescoço e arqueio ao sentir os pelos na minha pele. Encostando seu pau nos meus quadris, ele me aperta e diz:
— Quero mais de você — sussurra ao meu ouvido.
— Você não se cansa?
— De você — mordisca minha orelha. — Acho que ficarei viciado. Você é muito gostosa.
Suspiro igual a uma donzela inocente que acabou de encontrar o príncipe encantado. Só que o Nick está longe desse estereótipo de conto de fadas, e eu muito menos de ser uma donzela em apuros. Mas, confesso, a noite foi e está sendo mágica.
— Você também é muito gostoso, mas não quero precisar de uma reabilitação para me ver livre do vicio chamado: Nick, o rebelde.
Ele sorri e vira meu corpo para olhar em meus olhos.
— Eu nunca passei uma noite inteira com uma mulher. Depois que... — ele engole seco.
Percebo que seu olhar fica triste de repente, e sinto uma certa comoção em seu tom de voz. Talvez um drama do passado o aflija. E pensei que homens fossem práticos para resolver seus traumas
Enrolo Nick com o lençol e o abraço. Ficamos envolvidos pelo lençol de algodão que agora tem nossos cheiros. Ergo a cabeça e com as duas mãos seguro o rosto dele.
— Quer contar algo?
Ele respira fundo e fecha os olhos por alguns segundos. Depois os abre, sorri de lado e começa a falar.
— Eu fui casado e minha mulher morreu a dois anos em um acidente de carro. Ela estava grávida e eu quase enlouqueci. Passei todo esse tempo mergulhado no trabalho e no sexo sem compromisso. Não durmo com nenhuma mulher desde então. Até você aparecer.
Meu coração, que antes estava eufórico, agora está destroçado. O Nick que parece ser um predador no quesito mulher, que dança sedutoramente para conquistar suas futuras fodas, tem um trauma tão devastador como esse.
— Eu sinto muito...
Meus olhos estão marejados.
— Não sinta. Você não a conhecia — beija minha testa. — Eu senti uma mistura de sentimentos quando te vi entrando na Tentação. Um arrepio na espinha, borboletas no estômago e precisei de dez segundos de coragem para me aproximar e te puxar para dançar. Só tinha sentido isso quando conheci a minha esposa — arregala os olhos e diz: — E não pense que lembrei dela olhando para você, ou que são parecidas, longe disso. Eu só não queria deixar a oportunidade passar.
Fico em silêncio. Não sei o que dizer. De fato, quando ele começou a falar, achei que estava ali por lembrar sua esposa, me enganei. Minha noite está sendo surpreendente.
— Nick, eu tenho tantos problemas quanto você, não sei se daríamos certo...
— Ei — ele tira uma mecha dos meus olhos. — Só quero que dê certo esta noite, por enquanto. O amanhã, não pertence nem a mim e nem a você, o destino é que decide.
Sorrio tímida diante da forma como o Nick vê a vida. Ter passado por uma tragédia como a que passou, não afetou o modo de como ele encarar as surpresas do destino. Abraço sua cintura ele me aperta contra seu peitoral tatuado. Beija o alto da minha cabeça e diz:
— Não queria que essa noite se tornasse mórbida por traumas do meu passado. Porém, senti vontade me abrir com você.
— Essa noite está sendo maravilhosa — pego sua mão e a beijo. — Obrigado por me contar algo tão íntimo.
— Aceite como uma troca de experiências. Você me contou sobre seu divórcio e eu sobre minha viuvez.
Depois que transamos da primeira vez, bebemos mais um pouco de vinho e acabei contando ao Nick sobre meu casamento fracassado.
— Está frio aqui fora — ele diz olhando para o céu.
Eu olho direto para o meio de suas pernas, e seu membro já está duro, ereto e imponente. Nick é um espetáculo desde o corpo todo definido, feições marcantes e um pau de deixar qualquer mulher babando. Eu estou babando.
— Quero mais de você — digo o encarando.
Ele segura meu rosto e me beija. Agarro Nick pela cintura e o lençol cai nos deixando nus. Ele me conduz, sem desgrudar suas mãos do meu corpo, até a cama. Deita-me com cuidado e antes de se deitar sobre mim, ele me venera com seu olhar penetrante. Fico excitada só com esse olhar. Ele se deita sobre mim e beija cada parte do meu corpo. Não sinto vergonha em ser gordinha, até antes de sair de casa estava com receio do que achariam do meu corpo, mas agora, não mais. Sinto o roçar da barba do Nick em minha pele. Ele beija minha cintura enquanto acaricia meus seios com as mãos.
Quando ele encosta a boca na minha vagina, arqueio o corpo e seguro os lençóis. Solto um gemido. É delirante e Nick parece estar sedento. Eu estou sedenta por mais. Era isso que eu precisava. Eu precisava de alguém como o Nick, que me fizesse sentir que mesmo gordinha, sou sensual e gostosa, como ele mesmo repetiu durante toda a noite. Ele passeia a língua fazendo movimentos circulares no meu clitóris. Estremeço de prazer.
— Ah... Nick — solto outro gemido.
Ele ergue a cabeça para me olhar e diz:
— Não vou perder mais nenhum gemido seu. Vou te comer e te beijar até que goze comigo enterrado em você, minha linda.
Dito isso, que eleva minha excitação a um nível imensurável, ele se levanta, pega uma camisinha e veste em sua ereção. Ele abre minhas pernas e me segurando pelos joelhos, ele me penetrar. Sinto um ardor, que é vencido pela desinibição e prazer. Com movimentos vagarosos, Nick vai dando suas estocadas e eu vou a loucura. Sou arrebatada para outro nível de prazer. Ele vai acelerando o ritmo até cair sobre mim e beijar minha boca. Cada gemido meu é bebido por Nick. No clímax de nossa transa, gozamos, e é fantástico, pois quebrei o jejum de anos sem uma boa gozada.
Ele se deita ao meu lado e me puxa para perto de seu corpo suado, me abraça e diz ao meu ouvido.
— Gostosa do caralho!
Derreto-me ao ouvir esse elogio sacana. Pareço até uma adolescente sendo desvirginada. Acho que sou eu quem ficará viciada nele.
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Uma manhã de sábado nunca foi tão linda como a de hoje. Dentro do carro, Nick dirige com uma das mãos na minha perna, esse gesto carinhoso me faz sorrir. Durante o trajeto até a minha ele conversa comigo, sempre puxando assunto e acabo sabendo outras coisas sobre sua vida. Fico sabendo por exemplo que o apelido de rebelde foi dado por seu pai, que quando Nick era adolescente o deixou de castigo por ter ido passar um fim de semana no litoral sem avisar a ninguém da família. Ele em contou também, que o barman que me atendeu é seu primo Jeff, e que é dono da boate Tentação em sociedade com seu irmão mais velho. Um negócio de família.
O som do carro toca um rock clássico dos anos oitenta. Separate Ways do Journey toca em último volume. Nick e eu cantarolamos juntos e até balançamos as cabeças como se estivéssemos em um show de rock. É divertido.
Dez minutos depois, ele para o carro na porta do prédio onde moro. Abre a porta e estende a mão para que eu me apoie nele ao sair do carro. Um perfeito cavalheiro. De pé em sua frente, coloco as mãos em seu peito e fito seu lindo rosto de traços fortes. Ele sorri e me beija suavemente.
— Quando te verei novamente? ­— digo ansiosa.
— Quando o destino permitir, ou a nossa sede por ficar juntos for insuportável. Nesse segundo caso, eu sei onde te encontrar e você sabe onde pode matar sua sede — dá uma piscadela.
Despeço-me de Nick com último beijo e espero que esse não seja o último de verdade, pois a sede por mais será inevitável.

FIM.